segunda-feira, 1 de junho de 2015

Me ajuda aqui?

Lembro que minha mãe contava orgulhosa como eu fui uma criança que não deu trabalho. Um bebê bonzinho, que dormia a noite inteira, que quase não chorava. Cresci entre quatro irmãos, aprendendo no dia a dia a ser o mais independente possível, até por uma questão de logística numa família grande. Meus pais trabalhavam bastante e a gente foi ensinado desde cedo a se virar, a pedir ajuda somente quando não tivesse mais jeito. Nem sei se isso foi um ensinamento mesmo, é possível que eu que tenha entendido tudo errado. O fato é que em algum momento da minha vida eu entendi que não deveria incomodar, que pedir ajuda era ser fraca e que cada um deve se virar como pode. Enfim, cresci vendo a vida desse ponto de vista. Alguém se atreve a julgar meus pais? Jamais. Pessoas independentes são o que todos nós almejamos ser. Alguém discordaria disso? Só buscavam para os seus filhos o que de melhor poderia existir. 

Cresci me virando, não pedindo ajuda pra quase nada, um orgulho. E assim foi também com os meus irmãos. 

Depois de uma certa idade, acredito que essa busca por não atrapalhar os outros se transformou em algo parecido com o sentimento de não ser merecedor da preocupação alheia. Não era justo fazer alguém se preocupar com um problema que é só meu. E é aí que a coisa pega. O não ser merecedor.

As consequências são várias, e certamente vou voltar a falar disso, mas a pior que consigo ver é que agindo assim eu promovo um distanciamento natural das pessoas. Porque quem não pede ajuda, não recebe. E quanto mais a gente vive sem apoio, mais tem dificuldade em pedir. Porque pode segurar sozinha. Porque não quer incomodar. Porque não é merecedora de cuidado. Se torna um círculo vicioso: você se vira e dá conta de tudo, com isso conclui que é autossuficiente e pede cada vez menos ajuda. E cada vez mais se isola com uma carga pesadíssima pra carregar.




Eu demorei tempo demais pra descobrir que é num momento de aperto que a gente descobre pessoas disponíveis e com potencial de se tornar bons amigos. Que os laços de uma amizade não se estreitam magicamente em uma tarde agradável passeando no parque. Mas estar disponível quando alguém está em dificuldade tem um poder incrível. Que ligar pedindo uma mão quando a coisa aperta, também. As pessoas tendem a ser solidárias, empáticas, humanas, quando alguém está em uma situação de necessidade. Porque, afinal, é uma troca. Oferecer uma ajuda é quase mais reconfortante do que receber uma ajuda. É uma relação retroalimentada que tem fim em si mesma. 

Mas aí vem a vida moderna e nos incentiva a viver sem pedir ajuda. Ela dá um valor monetário para o que poderia ser um favor. Pagamos uma babá pra podermos ter um jantar romântico num sábado a noite, enquanto poderíamos pedir pra um parente que sempre se mostra disponível ficar com os meninos. Só que não queremos incomodar. Levamos pra terapia algo que poderia ser resolvido numa conversa olho no olho com um amigo que saiba oferecer empatia. Mas não podemos atrapalhar. Compramos tudo pronto pro aniversário dos filhos, enquanto poderíamos chamar umas amigas pra ajudar a enrolar os brigadeiros, exatamente como foram as nossas festinhas de aniversário. Só que não queremos perturbar as pessoas. E os laços vão ficando frágeis. As relações, frias. Sem trocas, sem cuidados, sem favores. 

Eu estou me esforçando no sentido de recuperar relações que nunca chegaram a existir. Aproveitar as oportunidades que o universo nos dá de estreitar e fortalecer as relações humanas. A maternidade me fez sentir essa necessidade de fazer parte de uma comunidade, de pertencer a uma tribo. É mais seguro, creio, educar filhos amparada por uma rede de apoio e deve ser daí que vem essa minha nova necessidade. Ainda erro muito, ainda sou muito resistente em assumir que, sim, preciso de uma mão, que preciso de apoio. Anos de programação mental me sabotando. Ainda não me sinto completamente segura para pedir apoio, confesso, mesmo depois de todas essas conclusões. É um caminho longo mas espero que esse seja o primeiro passo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário