domingo, 5 de abril de 2015

"Mãe, você sabe o que é ovo de Páscoa?"

Foi o que eu ouvi do Tales essa semana.

a minha cabeça foi longe. Poderia ter respondido:

"Páscoa, Tales, é sobre um moço que tentou ensinar amor ao mundo. Tentou ensinar as pessoas a sentirem a dor do próximo como sendo a sua dor. Só que o mundo entendeu tudo errado. Então na Páscoa, ao invés de distribuirmos amor gratuitamente, compramos chocolate. Passamos a vida nos atacando, nos julgando, nos odiando, cada vez mais distantes uns dos outros, mas no dia da Páscoa nos presenteamos com ovos de chocolate. Por isso, pra mim, esse dia não tem sentido algum."

Não sou cristã. Não porque não acredito em Jesus Cristo, acredito sim. Acredito que foi um moço bacana, bem intencionado, com o coração cheio de amor ao próximo, coisa que eu respeito e admiro. Mas pra mim, parou aí. Ou melhor, antes tivesse parado aí. O que eu vejo por aqui não é nada nem próximo do que o cara lá tentou ensinar. O que vejo por aqui me faz concluir que não sou cristã. Não mesmo. Não quero estar do mesmo lado dos que pregam ódio ao diferente, dos que distorcem tudo e usam sua influência para manipular as massas. Prefiro buscar outros caminhos. 

Do dia em que comecei a pensar sobre espiritualidade até chegar ao dia em que eu falei em voz alta que não sou cristã se passou um bom tempo. Anos. Não é um raciocínio baseado em senso comum, pelo contrário. O senso comum me levava ao cristianismo. E eu hoje fujo dele.

O que não quer dizer que não tenho as minhas verdades, as minhas crenças pessoais, os meus princípios espirituais. Não sou ateia, embora compreenda quem seja. Só não me sinto à vontade tendo um salvador. Não é do meu perfil entregar toda a minha vida a um ser divino e esperar que ele me leve pelo caminho certo. Sou uma questionadora nata, sou uma chata em potencial, não consigo me conformar em não estar no comando da situação. Às vezes me pego pensando como seria melhor delegar essa função, seria como ter com quem dividir a culpa caso algo saísse errado. Acredito verdadeiramente que quem consegue fazer isso tem mais facilidade de ser feliz. Mas, de verdade, pra mim não serve. E não é nada pessoal com o tal do Jesus, acho mesmo que ele é um cara bacana. E se pra você ele é o salvador, pronto, então ele é o salvador. E sinta-se um privilegiado pois eu gostaria de conseguir sentir isso. Eu não subestimo a tua fé, por isso, me sinto no direito de esperar que você não subestime a minha não fé. 

Claro que é cedo pra falar sobre isso com o Tales, nem sei quando e como esse assunto vai surgir, se é que vai surgir. E espero também que demore pois ainda há muito o que ser problematizado para que eu, quem sabe, algum dia possa falar que tenho certezas sobre o assunto. Por enquanto, me limito a responder pontualmente às perguntas dele, sem entrar no mérito da espiritualidade. 

E quanto à pergunta sobre ovos de Páscoa, respondi da forma mais verdadeira e objetiva que consegui:

"Ovo de Páscoa é chocolate, Tales."

E é mesmo, não é? Não menti. Deveria significar mais coisa, mas não. Não significa.