sexta-feira, 20 de março de 2015

O que você faria por você mesma?

Tenho convivido com a crônica sensação de que estou errando. Não com os meninos, pelo contrário. É em prol da felicidade deles que destino boa parte da minha energia diária. Gosto dessa dedicação, faço por amor e por vontade, mas devo confessar que me consome. Depois que voltei a trabalhar, tenho a sensação de que a vida se tornou uma sucessiva repetição de comandos que têm como finalidade somente a própria sobrevivência. Há pouco espaço pra algo que fuja dessa rotina. Me pergunto se não tinha que ser mais do que isso. Tinha? 

A rotina é desgastante e a nossa opção de terceirizar o mínimo possível da educação dos meninos nos sobrecarrega. Sei que o Julio também se sente assim, só não fala. A diferença é que ele não abandonou as atividades que faz por ele mesmo, futebol e tal. É um refúgio, coisa que eu não tenho. Por opção, talvez, mas não tenho. Sobra para o Julio a maior parte da carga, já que os meninos passam 2 dias por semana em casa e o solicitam bastante. Apesar de tudo, é lindo de ver o vínculo deles ficando ainda mais forte. Quem no mundo pode ter esse contato diário tão intenso com o pai? 

Não posso reclamar do meu trabalho, tenho noção de que nado no mar de privilégios que o serviço público oferece. O que me mata é olhar pela janela e ver a vida passando enquanto eu estou enfiada numa repartição. Apertando botões. Por dinheiro. Ser só mãe era diferente, mesmo que bem mais puxado. Era sufocante, era estressante, era puro cansaço físico, mas era uma entrega ideológica. Era a gente fazendo a vida acontecer e não só vendo ela passar. Mas esse post nem era sobre trabalho. Era sobre o quanto eu me exijo em busca da felicidade deles. Do quanto, nessa jornada, eu vou me perdendo de mim.

No olho do furacão, fazendo malabarismos diários para manter toda a engrenagem funcionando, olho pra mim e tento enxergar o que ficaria se eu não tivesse o cargo de mãe. O que ficaria se só houvesse a Vanessa, sem o "mãe do Tales e do Otto" para me definir. Fico sem resposta. Seria um erro tentar voltar a ser quem eu era antes da maternidade, não sou mais aquela e nem quero ser. Mas, quem sou eu, então?

Engraçado é que essa reflexão vem em um momento em que eu me sinto tão emocionalmente livre. O Otto não exige nem metade da entrega emocional que o Tales exigia nessa idade. Não sei dizer se o Tales me exigia ou se eu é que dependia daquela entrega. Pouco importa. Quando o Tales nasceu eu me fechei em um casulo e ficamos fusionados por uns 3 anos. Ele não vivia sem mim, eu morreria sem ele. Eu não tinha necessidades que não envolvessem ele, eu não existia sem ele, eu era ele. E isso não é uma reclamação. Aquilo me fazia feliz. Só de imaginar sair do trabalho e ir pra um happy hour sem ele me dava pânico. Eu queria estar com o meu filho, sempre, o tempo todo. Já o Otto é de uma autossuficiência incrível. Sinto que a ligação que ele tem com o Julio é tão forte quanto comigo. Não me sinto mais insubstituível como me sentia, e olhe só, gosto disso. Eu amo estar com ele, sinto uma saudade que chega a doer quando ficamos algumas horas separados. Mas é um sentimento mais maduro, mais calmo, menos passional. Não tem nada a ver com amar menos. Acho que está mais para uma maturidade emocional da minha parte. Tenho várias teorias pra explicar isso, mas todas ficam no campo do achismo, então, deixa pra lá.

Essa liberdade emocional que eu tenho agora me trouxe uma necessidade que eu não estava acostumada a ter: pensar em mim. Mas que esbarra na loucura que é a manutenção da vida. A rotina, os horários, tudo tão urgente, tão engessado a ponto de não me permitir sequer ter um tempo só pra mim. Tudo é prioridade, menos eu. Até porque, até esses dias, esse "eu" nem existia. Tudo era pra eles, tudo era por eles. Eu era eles. 

E quando falo em ter tempo pra mim, você aí pode estar pensando que tenho planos muito ousados. Que nada. Quero conseguir organizar minhas ideias, escrever, ler, relaxar minha mente. Claro que uma escapada com algumas poucas amigas num começo de noite depois de colocar os meninos pra dormir não me soa mal. Mas o que mais preciso nesse momento é estar comigo. Sinto falta de mim. Sinto falta de fazer algo por mim mesma. Será o fim do meu puerpério?

"Se você tivesse uma amiga que exigisse de você o quanto você se exige, quanto tempo você permitiria que essa pessoa fosse sua amiga?
Se você tivesse uma amiga que te tratasse da mesma forma como você se trata, quanto tempo você permitiria que essa pessoa fosse sua amiga?"

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