segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Por que diabos eu troco um boteco por um parquinho?

Eu sou daquele tipinho que se faz de surda quando o assunto é o chopp depois do expediente. Daquele tipinho que foge dos programas que a maioria das pessoas definiria como “happy hour”. Talvez muitos nunca tenham entendido o porquê.

Talvez só entendam meus motivos quando tiverem alguém que os espera ansiosamente e que quando o vê lá de longe sai correndo e gritando“mamãããããããee, você veio!”. É o auge do meu dia. Entra no carro e desanda a contar como foi sua tarde, o que comeu no lanche, qual musiquinha cantou, qual coleguinha faltou e do que quer brincar quando chegar em casa. Essa é a única definição de happy hour nesse momento da minha vida.

Eu acredito que com o tempo eu vou voltar a ter uma vida social mais parecida com a da maioria das pessoas que eu conheço, mas ainda não é a minha hora. Não estou abandonando os amigos, mas nesse momento tenho um novo melhor amigo e estar com ele virou meu único programa preferido. Os amigos são bem vindos onde ele puder estar junto, quando der pra conciliar, mas ele ainda é a minha prioridade absoluta. Não me convide, se for um convite só pra mim no meu horário de estar com ele, se não quiser ouvir um “não”.

Ter filhos, pra mim, não é um fardo que eu gostaria de me livrar sempre que possível. Não é nenhum sacrifício, é uma questão de prioridades. Por isso, por favor, não fique com pena de mim quando eu disser que não tenho com quem deixá-lo. Talvez eu só não queira deixá-lo. 

domingo, 27 de outubro de 2013

Maternidade x carreira

O Tales foi um bebê muito planejado. Engravidei quando quis, porque quis, foi uma escolha muito consciente fruto de uma vontade que sempre existiu em mim, e que foi amadurecendo e se tornando real depois que conheci o Julio. Eu sempre achei super natural, antes de me tornar mãe, que bebês fossem pra escolinha muito cedo. Todo mundo faz, deve ser fácil, deve ser o certo. Tolinha.

Desde que comecei a planejar a gestação eu sabia que tiraria minha licença maternidade de seis meses e junto tiraria duas férias acumuladas propositalmente para esse fim, o que me renderiam 8 meses em casa. Bem suficiente, não? Não.

Até hoje, um ano e meio depois que voltei a trabalhar, sofro de uma dor silenciosa e diária quando ele vem se despedir para ir pra escola. Pra mim, isso não é o natural, e não tente me convencer do contrário. Discursinhos do tipo: “Ah, porque criança que vai pra escola é mais independente, é mais esperta, é mais isso e mais aquilo” me dão vontade de vomitar. Não acho que uma criança pequena precise se desenvolver pedagogicamente. Criança pequena tem que brincar em tempo integral, sem regras, sem cobranças, sem horários, aprontar, comer terra, cair, se sujar. Tem que ficar grudado na mãe se sentir que precisa, mamar em verdadeira livre demanda, se sentir seguro por saber que a mãe estará lá sem prazo pra ir embora. Isso deve dar uma segurança incomparável. Eu considero isso como sendo o ideal, deveria ser a regra pelo menos nos 2 primeiros anos de vida, e não a exceção. Não consigo achar que meu filho estará melhor se precisar cumprir horários pré definidos, sendo cuidado por uma pessoa que não o conhece, que cuida simultaneamente de várias outras crianças, e que mesmo que o faça com carinho, não tem conexão emocional alguma com ele. Se você acha que alguém assim cuidaria tão bem quanto você, sorte sua, aposto que você sofre bem menos do que eu.

Eu tenho um bom emprego, tenho estabilidade, ganho bem mais do que algum dia imaginei que ganharia, trabalho com pessoas com quem tenho muito prazer em conviver, tenho uma carga horária menor do que a maioria das pessoas que trabalham na iniciativa privada. Fazer carreira não é meu objetivo, não tenho problema em admitir que pretendo continuar batendo cartão naquela mesma repartição até o final dos meus dias úteis. Desde que comecei a trabalhar onde trabalho, a síndrome do domingo a noite simplesmente não me persegue mais. Eu estou exatamente onde eu queria estar. E é aí que entra o meu eterno dilema pessoal. Eu sou feliz trabalhando onde trabalho, muito provavelmente eu jamais conseguiria (sem anos de dedicação que eu não quero ter) algo parecido se abandonasse esse cargo. Me faz bem sair todos os dias e encontrar quem eu encontro, fazer o que eu faço, ter paz de espírito, a qual eu devo boa parte à tranqüilidade que eu sinto por ter o emprego que tenho.

Acontece que, pelo menos uma vez por mês, me volta a sensação de que está tudo errado, de que eu fiz a escolha errada, que meu lugar era em casa com o meu filho. Eu sei que nasci pra isso, pra maternar em tempo integral. Nada no mundo me realizou mais do que ser mãe. Mas eu precisei fazer uma escolha, que eu considero que tenha sido muito consciente, mas foi uma escolha. E saber que é uma escolha, por um lado, me conforta: faz com que eu sinta que está comigo o poder de mudar meu destino quando eu quiser. O mercado é cruel? O mundo é capitalista? A sociedade vai me julgar? Sim, mas no final quem decide sou eu! Eu poderia largar tudo, dar um tchauzinho pro pessoal da repartição e ficar em casa. Ninguém aqui morreria de fome. Teríamos um padrão de vida bem baixo, evidente, mas daria pra viver. Eu acho, no mínimo, hipocrisia negar que isso é uma opção. Dói, mas eu prefiro assumir que, mesmo não tendo certeza de que estou fazendo a coisa certa, eu escolhi trabalhar fora. E já que eu escolhi, não faz sentido algum ficar me queixando, mesmo que eu sofra às vezes. Não é o que eu considero ideal, mas é o que eu quero fazer.

Eu solidarizo com as pessoas que deixam de lado por alguns anos seus planos profissionais para ficar com os filhos. Eu também os invejo, confesso. Assumir que os filhos são seu projeto de vida mais importante é algo admirável. A mim só resta torcer para nunca me arrepender da escolha que fiz. Até aqui o saldo é bastante positivo e enquanto eu estiver sentindo que estamos felizes vamos levando dessa maneira.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Porque não compartilhar uma cama, quando se compartilha uma vida?

Eu torço para que você não passe por essa vida sem se permitir sentir um dos maiores prazeres que a maternidade pode proporcionar: ver um filho se aconchegar no calor dos seus braços e se render ao sono na segurança do seu colo. Se sentir o porto seguro de alguém completamente entregue, que só precisa que você esteja ali, de corpo e alma. Acordar no meio da noite, olhar para o lado e sentir o cheirinho inigualável que o seu bebê exala enquanto dorme, admirar sua respiração, suas feições enquanto sonha. Há quem deixe momentos como esse passar sem se dar conta de que perdeu algo. 


Compartilhar a cama dos pais com o bebê é mais uma coisa que fomos levados a considerar errado. E caímos feito patinhos. Se fizermos uma rápida avaliação de como a espécie humana chegou até os dias atuais, facilmente vamos concluir que não foi dormindo longe dos seus filhotes. Essa coisa de deixar chorar no berço pra aprender a dormir eh coisa de poucos anos, se comparado ao tempo em que os humanos habitam esse planeta. Se os homens das cavernas fizessem isso, o choro do bebê atrairia predadores e eles fatalmente morreriam. E quanto a dormir em quartos separados então, existiam quartos nas cavernas? A mãe carregava a cria junto ao seu corpo durante muito tempo, era uma questão de sobrevivência. Milhares de anos se passaram, somente os bebês que permaneciam em contato corporal constante com a mãe sobreviveram. Aí o homem saiu das cavernas, foi morar em casas providencialmente divididas em cômodos e, já que agora estamos em segurança, os bebês podem dormir sozinhos em seu próprio quarto. E aquele serzinho primitivo, com genes naturalmente bem selecionados para que não se separe do corpo de sua mãe, chora desesperadamente pra não ficar a mercê de um predador, ou morrer de frio, ou de fome. A mãe sente que deve pegá-lo, não quer se separar dele nem, ou principalmente, enquanto dorme. Mas alguém já a preveniu que fazer isso é errado, e inclusive já nomearam a quê estará sujeito seu filho caso ela insista nessa insanidade: "estrago infantil cronico", um mal que assola todas as crianças que são ninadas e colocadas para dormir na cama dos pais. Agora se coloque no lugar de alguém que acabou de nascer, mal enxerga, sente necessidade de contato físico constante pra estar seguro e é deixado num berço em um quarto sozinho, porque, afinal, não podemos acostumar mal o menino. Que sentimento isso traz pro bebê?


Se você me pedisse um conselho, somente um, eu diria sem medo de errar: não deixe seu filho sozinho. Nem pra dormir. Carregue-o junto ao corpo por todo o tempo que sentir que deve. E só você sabe o quanto deve. Se permita quebrar as regras, leve seu filho pra sua cama quando sentir necessidade. Isso não vai acabar com a sua vida conjugal, eu posso jurar que sexo pode ser feito em outros locais da casa e não somente antes de dormir. Se permita sentir e não pensar. Mais pele, menos cérebro.




Tales dormiu em nossa cama ate os 2 anos, mais ou menos. Não sei se coincidentemente, mas foi exatamente durante todo o tempo em que durou a amamentação. Durante os cinco primeiros meses de sua vida, eu insisti em levá-lo para o berço que ficava em outro quarto sempre que terminava de amamentar. Foram as piores noites da minha vida, e tenho certeza que da dele também. Quando nos permitimos deixá-lo dormir a noite toda em nossa cama uma realidade paralela se abriu diante dos meus olhos: era possivel amamentar sem nem ao menos acordar. Com o passar do tempo ele foi desenvolvendo a maturidade neurológica que era necessária para dormir a noite toda e começou a se sentir seguro para pedir pra dormir em seu quarto.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Eu não quero ajuda!


“ah, meu marido é ótimo, me ajuda muito com o bebê e com a casa!”

Se você ainda usa essa frase para definir seu companheiro, por favor, reveja seus conceitos.
Partindo do princípio que ele é o pai do seu filho e que mora na mesma casa que você, que suja roupas, louças, come, bebe e dorme, eu preciso te dizer que ele não faz mais que a obrigação.

Tente assim:

“ele é um ótimo marido e um ótimo pai, dividimos as tarefas domésticas e os cuidados com o bebê”

Bem melhor, né?

Acredito que cada casa tenha uma dinâmica diferente, cada pessoa tem aptidões diferentes e que, dentro do possível, devem ser respeitadas. Se eu cozinho bem, eu preparo o jantar. Se eu não gosto de acordar cedo, deixo as crianças por tua conta nas manhãs de domingo. Tudo é um combinado. Mas precisa haver um combinado. Se não for explícito, é natural que a mulher tome as rédeas e abrace todas as tarefas. E não porque ela é uma burra e gosta de se sacrificar, mas porque fomos ensinadas assim. Ninguém precisa falar que é a nossa obrigação, corre nas nossas veias uma educação patriarcal, na qual para o homem basta existir para ser digno de ser servido. Se a gente não pára pra pensar, continua reproduzindo um sistema de forma automática. Um sistema que nos poda, que nos diminui, que nos escraviza.

A mulher precisa relembrar dia após dia que o papel do homem é muito mais do que fornecer espermatozóides para fecundar um óvulo. É obrigação dele, igualmente como é sua, a criação desse filho. E deixar isso claro facilita muito as coisas.

Aqui em casa já tivemos altos e baixos. Hoje podemos dizer que vivemos em harmonia. O Julio é perfeitamente capaz de fazer todas as tarefas de casa, isso já foi necessário enquanto eu hibernava no começo da minha segunda gestação e sobrevivemos muito bem. Quanto aos cuidados com o Tales, nunca precisei relembrá-lo da sua função de pai. Sempre trocou fralda, deu banho, levou e buscou na escola, enfim, foi o pai que se esperava que fosse. Nunca me ajudou, sempre fez o que deveria ser feito e sempre teve a consciência de que era o seu papel e não um favor que ele fazia pra mim.


Muita gente ainda se espanta quando descobre que lá em casa quem cuida das roupas é o Julio. Isso é tão natural pra gente que acredito que o Tales vai se espantar quando ele perceber que em algumas famílias não funciona dessa forma. 

E por quê não?

Em um fim de tarde estávamos passeando no shopping. Aquela cena clássica, os três de mãos dadas, Julio, Tales e eu, nesta ordem. Tales estava animado com o passeio e, por isso, começou a dar saltinhos ao invés de andar. Subitamente eu falei:

- Pare, Tales! Ande direito.

O Julio perguntou:

- Ué, por quê?

Pois é, por quê?

Por que sim? Por que eu mando? Por que ele é criança e tem que me obedecer? Por que ele precisa de limites? Por quê? Por quê? Por quê?

Não existia um motivo.

- Desculpa, Talinhos... pode andar do jeito que você achar mais divertido, continue pulando se quiser.

Qual é o motivo que nos leva a dar ordens aos filhos sem a menor necessidade? Depois desse dia fiquei observando as minhas atitudes e é incrível o número de vezes que eu dizia “não” sem motivo. Ou que eu o mandava fazer ou parar de fazer alguma coisa sem que precisasse.

Às vezes parece que o não dito pelos pais tem um poder salvador imediato, é livre de qualquer erro e sempre é com a desculpa de se estar educando. Ai, porque “dizer não é um ato de amor”. Ok, reconheço a importância do não no momento certo, mas a gente consegue enxergar quando é o momento certo vivendo assim no piloto automático? Ou uma ordem dada pelos pais é isenta de qualquer juízo de valor, quando dizemos não,  é não e pronto, nem precisamos de motivos?

É muito tirano pensar dessa forma. Quero um filho que pensa sobre os seus atos, que toma decisões. Que respeita regras, claro, mas que pensa sobre elas, não as obedece cegamente. Mesmo que elas venham de mim. Sou humana, me permito errar.

Quero que o “não” tenha um sentido diferente na educação dos meus filhos, que ele seja respeitado quando for legítimo, e por isso eu comecei a evitar usá-lo desnecessariamente. Lá em casa agora o “não” só é usado acompanhado de um motivo que o justifique. Não quero criar robôs, quero crianças que aprendam na tentativa e erro.

A vida já é feita de tantos “nãos” reais. Eu escolho não inventar outros.